segunda-feira, 13 de agosto de 2012

 
 
SAUDADE, filha do tempo, irmã da vida e prima da solidão. Uma fotografia mostra-me um sorriso que me conta uma história, faz-me chorar, dá-me um aperto no coração, um vazio na alma... Dá-me saudade, talvez por saber que nunca mais vou viver aquele momento, não daquela maneira, não com tanta intensidade...
As fotografias servem para guardar os momentos que temos medo de esquecer. Porque há momentos que esquecemos, alguns por queremos, outros por traição de memória, não conseguimos tirar dos pensamentos. E quando encontramos fotografias que traduzam esses momentos que pensamos guardados, sentimos um cubo de gelo escorregar pelo coração, descobrimos, afinal, que não estavam esquecidos, mas apenas escondidos no fundo da nossa alma. O que, de fato, é quase a mesma coisa, por estarem escondidos, não os sentimos e, por não os sentirmos julgamo-los esquecidos. E será que há esquecimento? Ou serão apenas momentos escondidos, adormecidos por momentos mais ...
recentes? Se houvesse esquecimento não poderia haver saudade! Não se sente saudade de algo esquecido. Paramos e olhamos para essas fotografias, com mais atenção que nunca, sorrimos e num arrepio fazemos com que o cubo de gelo derreta.
Saudade, algo que o tempo não apaga, pelo contrário, cria expectativas. Saudade, sim, filha do tempo, irmã da vida. Algo muito presente neste mundo cruel, pela crueldade dos homens. Tem de ser assim, o mundo ensina-nos a viver e não é só com alegrias que se aprende, também se aprende com a tristeza, as derrotas tornam-nos mais fortes, a saudade faz-nos continuar a caminhar.
Desistir de continuar é admitir que a saudade nos venceu, nos deitou abaixo, apagou o futuro e fez-nos viver para sempre num doce passado. A saudade estabelece um limite intransponível com correntes de lembranças, lembranças suaves e alegres. Ter saudade é recordar as coisas boas, não as más, porque dessas ninguém se lembra, ninguém se quer lembrar.
A saudade não morre sozinha num coração, leva consigo um pedaço de alma de cada um. Vai-nos matando aos poucos. Sutil e dolorosamente arranca-nos uma lágrima por cada sorriso do passado, e, vale cada lágrima.
A saudade, essa amiga que levamos pela mão, trai-nos à primeira hipótese e remexe com tudo o que há em nós, tudo o que vivemos, tudo o que somos... Arranca-nos da realidade e faz-nos voar entre o sonho e a verdade.
Saudade, sim, filha do tempo, irmã da vida e prima da solidão. Quem morre em saudade, morre sozinho, morre na saudade de não sentir saudade, de estar só... Pois, quem teve saudade, teve momentos e momentos, não se vive só!

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